A adenomiose é uma doença uterina benigna, caracterizada pela presença de glândulas endometriais dentro da camada miometrial. Vale colocar que o útero é formado por:
Por muitos anos, a adenomiose foi diagnosticada com mais frequência em mulheres multíparas (que já tiveram filhos) e na idade de perimenopausa. Entretanto, com os avanços recentes na compreensão desse quadro, a doença tem sido cada vez mais identificada em pacientes jovens e inférteis, estando associada a várias causas e diferentes subtipos.
Não raro, a adenomiose coexiste com a endometriose, outra importante patologia relacionada à camada interna do útero. Embora sejam consideradas condições distintas, ambas compartilham da mesma característica patogênica: a existência de um endométrio ectópico, mas em localização diferente. Na adenomiose, o tecido endometrial é encontrado dentro do miométrio, enquanto na endometriose, o endométrio ectópico se implanta fora do útero, em outros órgãos da pelve.
Não está bem claro qual é o mecanismo etiopatogênico da adenomiose, mas duas teorias são propostas na literatura: invaginação e metaplasia.
A primeira hipótese, também a mais aceita, refere-se à invaginação da base endometrial no miométrio, em resposta à autotraumatização do tecido. Isso significa que durante operações uterinas — a exemplo de uma cesariana — a zona juncional mioendometrial enfraquece, permitindo que as células endometriais exerçam invasão direta na camada vizinha.
A outra teoria sugere a metaplasia de remanescentes embrionários dos ductos de Müller — estruturas responsáveis pela diferenciação dos órgãos reprodutores, durante a formação do feto feminino. Assim, a partir de resquícios embriológicos, um novo tecido semelhante ao endométrio se formaria dentro do miométrio, dando origem às lesões adenomióticas.
Entre os fatores de risco para a adenomiose, constam:
A adenomiose dificilmente pode ser identificada apenas por sua sintomatologia, uma vez que as manifestações também são comuns em outras patologias femininas. Além disso, até 30% dos casos são assintomáticos, o que aumenta o desafio para a detecção precoce da doença.
Entre os sintomas da adenomiose e algumas possíveis complicações do quadro, podemos elencar:
Como os sinais e sintomas da adenomiose são semelhantes aos de outras doenças uterinas, torna-se um quadro difícil de diagnosticar. A confirmação se dá após investigação clínica, exame pélvico, que pode revelar um útero dilatado e sensível, além da avaliação por métodos de imagem e análise histológica.
A ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética são técnicas de importante papel na avaliação da adenomiose, com potencial para identificar os subtipos da doença. Alguns estudos sugerem que a ressonância apresenta melhor desempenho, mas ainda é necessário um consenso para classificação da patologia, a fim de facilitar o prognóstico e prever a resposta terapêutica.
A histeroscopia também é útil na investigação diagnóstica da adenomiose, pois oferece a vantagem da visualização direta da cavidade uterina, possibilitando a detecção de anormalidades na superfície endometrial. Hipervascularização e cistos hemorrágicos submucosos são alterações sugestivas de adenomiose. Além da eficácia na avaliação, a técnica histeroscópica viabiliza a realização de biópsia dirigida para análise histopatológica.
O tratamento da adenomiose depende da apresentação clínica da doença, da idade da mulher e de seu estado reprodutivo. As opções terapêuticas incluem anti-inflamatórios, medicamentos hormonais e intervenção cirúrgica (mais rara).
Os fármacos anti-inflamatórios são úteis para o controle da dor durante o período menstrual. Já os medicamentos à base de hormônios sintéticos — pílulas anticoncepcionais combinadas (estrogênio e progesterona), dispositivo intrauterino (Mirena), adesivos cutâneos e anéis vaginais — podem reduzir o fluxo menstrual e fornecer algum alívio, mas são indicados para mulheres que não querem engravidar no momento.
Pacientes com sintomas intensos e que não melhoram com medicamentos passam pelo tratamento cirúrgico para correção das lesões. Nesses casos, as alternativas são ressecção por histeroscopia ou videolaparoscopia, embolização da artéria uterina, ablação endometrial e histerectomia — esta última tem a indicação reservada a mulheres que não querem mais filhos, visto que se trata da remoção do útero, portanto representa um impacto definitivo na fertilidade.
A adenomiose está associada à infertilidade em razão do espessamento anormal da zona juncional do miométrio com o endométrio. Essa zona desempenha um papel único no processo de placentação profunda, de modo que as alterações causadas pelas lesões adenomióticas podem provocar abortamento espontâneo.
Se você desconfia de um quadro de adenomiose devido a dores intensas no período menstrual, sangramento anormal ou dificuldade de engravidar ou de manter uma gestação, procure avaliação especializada.
Na área de reprodução assistida, para mulheres que apresentam fatores uterinos associados ou não a outros fatores de infertilidade pode ser indicada a fertilização in vitro (FIV). Esse tipo de tratamento acompanha todas as etapas da concepção humana e intervém com técnicas específicas, incorporadas ao programa de FIV conforme a avaliação individualizada de cada casal.
A FIV envolve um processo de alta complexidade, mas que tem sido cada vez mais procurado e reconhecido por suas taxas de sucesso — tanto para mulheres com problemas uterinos, como a adenomiose, quanto diante de diversos outros quadros de infertilidade conjugal.