A reversão de vasectomia é uma possibilidade para homens que fizeram a cirurgia de esterilização, mas decidiram ter mais filhos após algum tempo. Essa mudança de planos ocorre com 3% a 6% dos pacientes operados.
A motivação para o procedimento de reversão vem de vários fatores, como formação de uma nova família com outra parceira, falecimento de um filho, melhora da situação financeira etc.
A vasectomia é um procedimento simples que consiste no bloqueio dos canais deferentes. Esses ductos são responsáveis por transportar os espermatozoides dos epidídimos, onde ficam armazenados, até a próstata, onde se unem aos líquidos prostático e seminal. A reversão de vasectomia, no entanto, é um procedimento mais desafiador em seu aspecto técnico e nem todos os profissionais o fazem.
Além disso, passar pela cirurgia de reversão de vasectomia não é uma garantia de que o homem vai recuperar sua fertilidade, pois existem variáveis que podem interferir nas taxas de sucesso dessa intervenção. Sendo assim, tanto o paciente quanto sua parceira são avaliados, a fim de verificar as condições gerais do casal e estabelecer um prognóstico de reprodução.
A reversão de vasectomia é uma técnica procurada por homens que querem desfazer a cirurgia anterior que os deixaram estéreis. Contudo, essa indicação não é feita em todos os casos, visto que existem fatores a considerar — um deles é o tempo transcorrido desde a vasectomia. Quanto mais tempo de cirurgia, mais difícil é recuperar a fertilidade.
A idade da mulher também é um ponto importante. A fertilidade feminina sofre um declínio progressivo após os 35 anos, devido à redução da quantidade de óvulos armazenados (reserva ovariana).
Da mesma forma, a qualidade dos oócitos é comprometida com o envelhecimento dos ovários, fato que aumenta os riscos de anormalidades cromossômicas numéricas (aneuploidias), formação de embriões de baixa qualidade, falhas de implantação embrionária e abortamento precoce.
Todavia, a idade por si só não é um marcador biológico da infertilidade feminina. Por isso, exames específicos são importantes, como a avaliação da reserva ovariana e a histerossalpingografia, que avalia a anatomia do útero e a permeabilidade das tubas uterinas.
Quando algum fator de infertilidade feminina é encontrado, o homem é desaconselhado a fazer a reversão de vasectomia para tentar a gravidez natural. Nesses casos, a fertilização in vitro (FIV) complementada por técnicas de recuperação espermática é mais promissora.
Além da avaliação da parceira, o paciente que pretende passar pela reversão de vasectomia também deve ser investigado a fundo. Isso porque determinadas condições de saúde do homem podem minorar as chances de gravidez pós-reversão, como: histórico de cirurgias nos órgãos reprodutores, que possam ter causado alguma obstrução vascular adicional; história de infecções pélvicas; abuso de esteroides anabolizantes; terapia de suplementação de testosterona; tratamentos oncológicos etc.
As técnicas de reversão incluem a vasovasostomia e a vasoepididimostomia. Na primeira abordagem, as pontas dos canais deferentes, separadas na cirurgia de vasectomia, são reconectadas. Já o segundo método operatório é realizado quando as extremidades cortadas não estão acessíveis e os ductos precisam ser ligados de modo direto aos epidídimos.
Após a reversão de vasectomia, o paciente realiza análises seminais periódicas para acompanhar os resultados do procedimento. O restabelecimento dos parâmetros seminais pode ser um processo demorado. Além disso, mesmo que a concentração espermática volte ao normal, não é garantia de que uma gravidez ocorrerá nos meses subsequentes.
Estudos apontam que, em até 99% dos casos, a restauração da fertilidade é comprovada com a presença dos espermatozoides no ejaculado. Entretanto, as taxas de gravidez são bem menores que as taxas de sucesso na cirurgia e ocorrem em 30% a 50% dos casos, conforme a técnica cirúrgica empregada. Tal discrepância sugere que algumas sequelas da vasectomia — morfológicas, estruturais e moleculares — podem ser irreversíveis para alguns homens.
A FIV é a opção mais indicada para os casais que não conseguem uma gravidez espontânea, como no caso de pacientes com obstrução pela vasectomia. A indicação também abrange aqueles que fizeram a reversão e não chegaram ao desfecho esperado. Para essas condições, realiza-se a FIV com técnicas de recuperação espermática e injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI).
A recuperação espermática envolve procedimentos microcirúrgicos para colher os espermatozoides dos órgãos reprodutores — dos testículos, onde são produzidos, e dos epidídimos, onde amadurecem e adquirem motilidade.
Essa alternativa é oferecida aos pacientes diagnosticados com azoospermia, que significa inexistência de gametas no sêmen. Uma das causas dessa condição é justamente a vasectomia, posto que o bloqueio dos canais deferentes impede os espermatozoides de chegarem até o líquido seminal.
Após serem recuperados, os espermatozoides são preparados para a fertilização. A ICSI consiste na micromanipulação dos gametas masculinos, com o apoio de um microscópio de alta precisão. A imagem é ampliada em até 400 vezes, facilitando a imobilização dos espermatozoides. Estes são aspirados e injetados, um no citoplasma de cada óvulo. O objetivo é acelerar a fusão das membranas e a formação do embrião.
Em síntese, a reversão de vasectomia tem boas chances de promover o resultado esperado, desde que as condições gerais de fertilidade do casal sejam favoráveis. Contudo, a FIV ICSI com recuperação espermática é uma alternativa vantajosa para os casais com infertilidade por fatores masculinos — sobretudo, se houver limitações femininas concomitantes, como idade avançada ou alterações no sistema reprodutor.